Mês: março 2022

CéuOceano

Estávamos todos reunidos no laboratório tentando manter a situação sob controle. Ninguém sabia direito o que havia acontecido nem o que iria acontecer, mas era evidente que algo precisava ser feito. O problema era que ninguém queria se aproximar no dispositivo, que parecia instável e era definitivamente perigoso.

Me voluntariei. Sentia certa indiferença com a situação. Estava nervosa, mas meu nervosismo não era medo, era apenas o estresse de estar sob pressão com uma bomba literalmente em minhas mãos. Mexia de um lado e de outro, tentando encaixar as peças soltas sem sucesso. Tinha gente demais para um laboratório tão pequeno.

De repente, uma explosão.

Não vi nem senti nada. Me vi completamente só em um lugar estranho e familiar ao mesmo tempo, parecia outro planeta. De algum modo, eu sabia que algumas pessoas haviam ficado presas na Terra, enquanto outras – poucas – foram parar nesse tal planeta.

Eu não estava deitada nem de pé. Estava flutuando. Mas o ar estava diferente. Nesse planeta, o céu era um oceano e voar era como nadar. Vi uma outra pessoa que também havia morrido na explosão e a abordei. Demos as mãos e nadamos pelo céu juntas enquanto eu cantava algo que não consigo descrever bem. Não eram palavras, mas apenas uma melodia que eu entoava de meu âmago. Era improvisada, mas muito bonita. Eu apenas emitia sons que refletiam o que eu estava sentindo: uma imensa paz, harmonia e certa tristeza…

Eu entendi que estava morta e aquela outra pessoa era minha única companhia no planeta dos mortos. Me conformei com a situação. Apesar da tristeza, a paz era maior e me dominava completamente. Era uma sensação muito agradável que me preenchia. Continuei nadando pelo céu de mãos dadas com aquela outra pessoa, explorando o planeta e encontrando objetos e prédios abandonados. Me sentia livre, finalmente. Junto com a melodia que eu cantava, o nadar/vôo virou dança e eu girava e girava feliz, me sentindo leve e plena.

Entendendo que estava morta, me lembrei das minhas gatas de estimação que morreram anos atrás. E elas apareceram. Me emocionei enquanto as acariciava, feliz em reencontrá-las.

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Foi quando acordei. Desapontada, sequei as lágrimas e gastei mais alguns minutos na cama, contemplando a frustração de mais um dia a ser vivido.

No planeta dos mortos, o céu é um oceano. Eu morri, mas ainda estou aqui…

Lista das coisas que você estragou para mim

Avenida Paulista

Chile

Idioma Espanhol

Artesanatos em geral

Pedras minerais (especialmente quartzo branco, citrino e ametista)

Prata

Qualquer coisa banhada e níquel

Dia dos namorados

Rua Augusta

Praça da matriz

Mureta do Morro de São José

Avenida 9 de Julho

Patins

Carícias

Pegação

Sexo oral

Masturbação

Senefas de beijos

Sopa de tomate

O mês de outubro

Estação Trianon-Masp

Estação Higienópolis-Mackenzie

Praça Benedito Calixto

A padaria de esquina da Teodoro com a Fradique

O restaurante do nosso 1º encontro

Rua dos Pinheiros

Paranapiacaba

Beco do Batman

Vila Madalena

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Meu trabalho

Minha cidade

Minha casa

Meu quarto

Meu passado

Meu presente

Meu futuro

Meus dias

Minhas noites

Minha cabeça

Meu coração

Minha paz

Minhas chances de ser feliz com qualquer outra pessoa que não seja você